domingo, 3 de janeiro de 2016
Sobre a história da arte
Marcelo Guimarães Lima
A história da arte seria a história, primeiramente, dos "objetos artísticos". Mas a identificação do objeto artístico requer a explicitação dos critérios de "artisticidade", o que implica explicitar a gênese do objeto relacionada à formação do seu contexto próprio e dos modos de ação que o produzem como tal.
Esta explicitação é trabalho da história. Ela se dá no devir histórico enquanto constituição de um campo de atividades e de objetos relacionados a um domínio da experiência que é constituído e se auto-constituí no tempo e na vivência histórica enquanto domínio reflexivo da experiência das formas, seus valores e significados, relacionando percepção, emoção e razão.
A dificuldade da "arte" e da história da arte é a imbricação de fato e valor que caracteriza para nós, historicamente, o pensamento e a experiência no domínio estético. Se a categoria reflete por mediações um modo do ser, um domínio do real, ela se transforma com as transformações de seu objeto. Mas a realidade em mutação segue à frente do conceito e assim desfaz a ordenação conceitual que no passado recente constituía o objeto enquanto objeto conhecido. Mudam-se os modos de ação e mudam assim os objetos produzidos: mudanças qualitativas que dizem respeito à própria natureza do fazer, da produção, das obras, seus contextos, valores e significados.
A história da arte seria então, o registro das mutações de todo um campo da experiência em suas relações com os sistemas que estruturam a vida social, a cultura, o conhecimento. A arte torna-se assim uma questão no tempo: o que foi, o que será e, entre o passado e o futuro possível ou impossível, o presente é um campo aberto.
Onde, no passado recente, havia uma espécie de evidência, como uma resposta que se antecipava a uma questão nunca formulada ou explicitada, resposta que dizia respeito ao valor mais do que ao fato, há agora uma questão apenas: da evidência passamos, como observou Adorno em meados do século XX, à não-evidência completa, à dificuldade "generalizada"- a questão da arte deverá ainda ser formulada. E, neste caso, a história da arte seria a de um objeto não delimitado ou a história de uma abertura. Uma história de possibilidades?
A história da arte, podemos então afirmar, não é simplesmente, ou não é apenas, o que se projeta (problematicamente) da categoria (comumente reconhecida) presente no passado, mas igualmente o que do passado da arte, da sua experiência, se projeta no presente e, na sua alteridade, prenuncia para nós um outro futuro.
Marcelo Guimarães Lima
A história da arte seria a história, primeiramente, dos "objetos artísticos". Mas a identificação do objeto artístico requer a explicitação dos critérios de "artisticidade", o que implica explicitar a gênese do objeto relacionada à formação do seu contexto próprio e dos modos de ação que o produzem como tal.
Esta explicitação é trabalho da história. Ela se dá no devir histórico enquanto constituição de um campo de atividades e de objetos relacionados a um domínio da experiência que é constituído e se auto-constituí no tempo e na vivência histórica enquanto domínio reflexivo da experiência das formas, seus valores e significados, relacionando percepção, emoção e razão.
A dificuldade da "arte" e da história da arte é a imbricação de fato e valor que caracteriza para nós, historicamente, o pensamento e a experiência no domínio estético. Se a categoria reflete por mediações um modo do ser, um domínio do real, ela se transforma com as transformações de seu objeto. Mas a realidade em mutação segue à frente do conceito e assim desfaz a ordenação conceitual que no passado recente constituía o objeto enquanto objeto conhecido. Mudam-se os modos de ação e mudam assim os objetos produzidos: mudanças qualitativas que dizem respeito à própria natureza do fazer, da produção, das obras, seus contextos, valores e significados.
A história da arte seria então, o registro das mutações de todo um campo da experiência em suas relações com os sistemas que estruturam a vida social, a cultura, o conhecimento. A arte torna-se assim uma questão no tempo: o que foi, o que será e, entre o passado e o futuro possível ou impossível, o presente é um campo aberto.
Onde, no passado recente, havia uma espécie de evidência, como uma resposta que se antecipava a uma questão nunca formulada ou explicitada, resposta que dizia respeito ao valor mais do que ao fato, há agora uma questão apenas: da evidência passamos, como observou Adorno em meados do século XX, à não-evidência completa, à dificuldade "generalizada"- a questão da arte deverá ainda ser formulada. E, neste caso, a história da arte seria a de um objeto não delimitado ou a história de uma abertura. Uma história de possibilidades?
A história da arte, podemos então afirmar, não é simplesmente, ou não é apenas, o que se projeta (problematicamente) da categoria (comumente reconhecida) presente no passado, mas igualmente o que do passado da arte, da sua experiência, se projeta no presente e, na sua alteridade, prenuncia para nós um outro futuro.
Marcelo Guimarães Lima
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